quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um calvinista descobre o Catolicismo




Eu cresci acreditando que o evangelicalismo era “fé que uma vez foi dada aos santos”[12]. Aprendi pelo estudo da história protestante que essa fé dificilmente era mais antiga que Whitefield, e certamente não era a mesma fé dos Reformadores. O que fazer? Retornar ao século 16 e viver como um autêntico calvinista? Eu já sabia que o próprio Calvino, com toda a sua insistência em unidade e autoridade, não teve êxito. Seus próprios seguidores acabaram em anarquia e individualismo.

Então percebi que Calvino era parte do problema. Ele insistiu na importância da unidade e autoridade, mas rejeitou qualquer base racional para essa autoridade. Ele sabia que a Bíblia totalmente sozinha, interpretada por cada consciência individual, era uma receita do desastre. Mas a sua própria autoridade (de Calvino) era totalmente arbitrária. Sempre que era desafiado, ele apelava à sua própria consciência ou à sua experiência subjetiva, mas ele negava esse direito a Bolsec e outros. Como resultado, Calvino se tornou orgulhoso e severo, brutal com seus inimigos, intolerante. Em todo o meu estudo sobre Calvino, eu não me lembro de ele pedir desculpas ou admitir erros uma única vez.

Eventualmente, constatei que a atitude de Calvino contrastava com a atitude dos maiores teólogos católicos. Vários deles eram santos, reconhecidos por sua caridade heroica e humildade. Além do mais, eu sabia pelos seus escritos, especialmente de Sto. Tomás de Aquino, Sta. Catarina de Siena, Sta. Teresa de Ávila e S. Francisco de Sales, que eles negavam qualquer autoridade pessoal para definir doutrina. Eles se curvaram voluntariamente, até alegremente, à autoridade do Papa e dos concílios. Eles podiam manter o ideal bíblico de unidade doutrinária (1Cor 1,10) sem afirmarem ser a fonte dessa unidade.

Estes santos também desafiaram o estereótipo de católicos que eu tinha. "Evangélicos" frequentemente assumem que são eles os únicos que têm uma “relação pessoal com Cristo”. Católicos, com seus rituais e instituições, são supostamente alienados de Cristo e da Bíblia. Apesar disso, encontrei (nos santos) homens e mulheres totalmente focados em Cristo e inebriados com sua Graça.

O teólogo católico que teve o maior impacto em mim foi, sem dúvida, Sto. Agostinho (354-430). Em toda a minha vida, ouvi que a Igreja primitiva era protestante e evangélica. Meus professores do seminário e até mesmo Calvino e Lutero sempre apontavam para Sto. Agostinho como seu grande herói da Igreja Primitiva. Quando eu finalmente pesquisei Agostinho, no entanto, descobri o Catolicismo completo. Agostinho amava a Bíblia e falou profundamente sobre a Graça de Deus, mas ele os compreendia no sentido católico. Ele destruiu o que restava da minha visão evangélica da história.

No fim, eu vi que cada coisa boa do Evangelicalismo já estava presente na Igreja Católica – a devoção calorosa à espiritualidade evangélica, o amor pela Bíblia e até mesmo, em certo ponto, a tolerância evangélica à diversidade. O Catolicismo sempre tolerou escolas de pensamento, várias teologias e liturgias diferentes. Mas, ao contrário do Evangelicalismo, a Igreja Católica possuía uma maneira lógica e consistente de distinguir entre o essencial e o não-essencial. O Magistério da Igreja, estabelecido por Cristo (Mt 16,18; 28,18-20), era a fonte daquela unidade que Calvino queria substituir.

Uma das coisas mais agradáveis da minha descoberta da Igreja Católica é que ela satisfaz plenamente meu desejo por raízes históricas. Eu comecei a estudar História acreditando na continuidade da fé e tentando desesperadamente encontrá-la. Até mesmo quando eu pensei encontrá-la na Reforma, eu ainda devia lidar com o enorme período da Idade Média, católica. Agora, graças ao que Calvino me ensinou, não existem mais pontas soltas. Em 16 de novembro de 2003, finalmente abracei a “fé que uma vez foi dada aos santos”. Eu entrei na Igreja Católica

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