Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti.
Leitura da Profecia de Zacarias 2,14-17 14 `Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15 Muitas naçðes se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti, e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a ti. 16 O Senhor entrará em posse de Judá, como sua porção na terra santa, e escolherá de novo Jerusalém. 17 Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua santa habitação'. Palavra do Senhor.
R. O Senhor se lembrou de mostrar sua bondade. 46 A minh'alma engrandece ao Senhor, * 47 e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, R.
48 pois, ele viu a pequenez de sua serva, * eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. 49 O Poderoso fez por mim maravilhas * e Santo é o seu nome! R.
50 Seu amor, de geração em geração, * chega a todos que o respeitam. 51 Demonstrou o poder de seu braço, * dispersou os orgulhosos. R.
52 Derrubou os poderosos de seus tronos * e os humildes exaltou. 53 De bens saciou os famintos * e despediu, sem nada, os ricos. R.
54 Acolheu Israel, seu servidor, * fiel ao seu amor, 55 como havia prometido aos nossos pais, * em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre. R.
Evangelho - Mt 12,46-50
E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: 'Eis minha mãe e meus irmãos. + Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 12,46-50 Naquele tempo: 46 Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: 'Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo.' 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' 49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: 'Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.' Palavra da Salvação.
Reflexão - Mt 12, 46-50
Jesus não quer que nós sejamos seus servos, pois o amor que ele tem por nós não permite isso. O apóstolo São João nos diz no seu Evangelho que Jesus não chama os seus seguidores de servos, mas de amigos, porque lhes revelou tudo o que o Pai lhe deu a conhecer. Mas no Evangelho de hoje, Jesus vai mais além, ele nos mostra que quer que todos os que ele ama e o amam sejam membros da sua família, participem da sua vida divina. Para demonstrar o amor que temos por Jesus, não basta apenas afirmar o amor que se sente por ele, é preciso ir além, é preciso conhecer e realizar a vontade do Pai. Somente quem faz a vontade do Pai ama verdadeiramente a Jesus, torna-se membro da sua família e participa da sua vida.
A devoção a Nossa Senhora do Carmo está ligada ao Monte Carmelo, local onde o profeta Elias tinha muitas de suas visões.
No ano 93 depois de Cristo, monges construíram sobre o Carmo, abreviatura de Carmelo, uma capela em louvor à Virgem Maria. O local permaneceu ao longo dos tempos como residência e ponto de peregrinação de monges e religiosos.
No século XII, alguns eremitas franceses, dirigidos por São Bertoldo acabaram fundando a Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Foi assim que surgiu a Ordem dos Carmelitas, que tem a Virgem do Carmo e o profeta Elias, como seus patronos.
A Ordem dos Carmelitas se expandiu para Europa, inclusive na Inglaterra. Nesta época, a Ordem sofriam muitas perseguições, internas e externas. Foi quando, Simão Stock, superior da Ordem, pediu a ajuda de Maria. A Virgem do Carmo, cercada de anjos, teria então aparecido à sua frente, dando seu apoio e entregando-lhe o Escapulário do Carmo, como símbolo de sua união com os monges, prometendo salvação e vida eterna à todos que o usassem. Era o dia 16 de julho de 1251 e a aparição se deu em Cambridge, na Inglaterra.
O grande crescimento da Ordem se deu graças à instituição do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, cujo uso se popularizou, em todo o mundo católico, pela fé e devoção à Maria Santíssima que conduz ao Cristo Jesus. O Papa Pio 12 recomendou a devoção ao escapulário, símbolo da proteção da Mãe de Deus.
ReflexãoUm dos mais simples e queridos objetos da devoção mariana é o escapulário. Difundido entre os católicos de todo mundo, os escapulários são sinal do amor de Deus e de Maria pela humanidade. Como todo objeto de devoção, o valor não está nele mesmo, mas no sinal que ele representa: a presença de Deus entre os homens e mulheres de boa vontade. Que no dia de hoje Maria, mãe do Carmo, derrame suas bênçãos sobre nós.
OraçãoSenhora do Carmo, Rainha dos Anjos, refúgio e Advogada dos pecadores, com confiança eu me prostro diante de vós suplicando-vos vossa proteção. Agradeço-vos as inúmeras bênçãos que tenho recebido de vossa mercê e poderosa intercessão. Continuai a ser meu escudo nos perigos, minha guia na vida e minha consolação na hora da morte. Amém.
Eu cresci acreditando que o evangelicalismo era “fé que uma vez foi dada aos santos”[12]. Aprendi pelo estudo da história protestante que essa fé dificilmente era mais antiga que Whitefield, e certamente não era a mesma fé dos Reformadores. O que fazer? Retornar ao século 16 e viver como um autêntico calvinista? Eu já sabia que o próprio Calvino, com toda a sua insistência em unidade e autoridade, não teve êxito. Seus próprios seguidores acabaram em anarquia e individualismo.
Em todo o meu estudo sobre Calvino, eu não me lembro de ele pedir desculpas ou admitir erros uma única vez.
Eventualmente, constatei que a atitude de Calvino contrastava com a atitude dos maiores teólogos católicos. Vários deles eram santos, reconhecidos por sua caridade heroica e humildade. Além do mais, eu sabia pelos seus escritos, especialmente de Sto. Tomás de Aquino, Sta. Catarina de Siena, Sta. Teresa de Ávila e S. Francisco de Sales, que eles negavam qualquer autoridade pessoal para definir doutrina. Eles se curvaram voluntariamente, até alegremente, à autoridade do Papa e dos concílios. Eles podiam manter o ideal bíblico de unidade doutrinária (1Cor 1,10) sem afirmarem ser a fonte dessa unidade.
Estes santos também desafiaram o estereótipo de católicos que eu tinha. "Evangélicos" frequentemente assumem que são eles os únicos que têm uma “relação pessoal com Cristo”. Católicos, com seus rituais e instituições, são supostamente alienados de Cristo e da Bíblia. Apesar disso, encontrei (nos santos) homens e mulheres totalmente focados em Cristo e inebriados com sua Graça.
O teólogo católico que teve o maior impacto em mim foi, sem dúvida, Sto. Agostinho (354-430). Em toda a minha vida, ouvi que a Igreja primitiva era protestante e evangélica. Meus professores do seminário e até mesmo Calvino e Lutero sempre apontavam para Sto. Agostinho como seu grande herói da Igreja Primitiva. Quando eu finalmente pesquisei Agostinho, no entanto, descobri o Catolicismo completo. Agostinho amava a Bíblia e falou profundamente sobre a Graça de Deus, mas ele os compreendia no sentido católico. Ele destruiu o que restava da minha visão evangélica da história.
No fim, eu vi que cada coisa boa do Evangelicalismo já estava presente na Igreja Católica – a devoção calorosa à espiritualidade evangélica, o amor pela Bíblia e até mesmo, em certo ponto, a tolerância evangélica à diversidade. O Catolicismo sempre tolerou escolas de pensamento, várias teologias e liturgias diferentes. Mas, ao contrário do Evangelicalismo, a Igreja Católica possuía uma maneira lógica e consistente de distinguir entre o essencial e o não-essencial. O Magistério da Igreja, estabelecido por Cristo (Mt 16,18; 28,18-20), era a fonte daquela unidade que Calvino queria substituir.
Eu cresci acreditando que o evangelicalismo era “fé que uma vez foi dada aos santos”[12]. Aprendi pelo estudo da história protestante que essa fé dificilmente era mais antiga que Whitefield, e certamente não era a mesma fé dos Reformadores. O que fazer? Retornar ao século 16 e viver como um autêntico calvinista? Eu já sabia que o próprio Calvino, com toda a sua insistência em unidade e autoridade, não teve êxito. Seus próprios seguidores acabaram em anarquia e individualismo.
Então percebi que Calvino era parte do problema. Ele insistiu na importância da unidade e autoridade, mas rejeitou qualquer base racional para essa autoridade. Ele sabia que a Bíblia totalmente sozinha, interpretada por cada consciência individual, era uma receita do desastre. Mas a sua própria autoridade (de Calvino) era totalmente arbitrária. Sempre que era desafiado, ele apelava à sua própria consciência ou à sua experiência subjetiva, mas ele negava esse direito a Bolsec e outros. Como resultado, Calvino se tornou orgulhoso e severo, brutal com seus inimigos, intolerante. Em todo o meu estudo sobre Calvino, eu não me lembro de ele pedir desculpas ou admitir erros uma única vez.
Eventualmente, constatei que a atitude de Calvino contrastava com a atitude dos maiores teólogos católicos. Vários deles eram santos, reconhecidos por sua caridade heroica e humildade. Além do mais, eu sabia pelos seus escritos, especialmente de Sto. Tomás de Aquino, Sta. Catarina de Siena, Sta. Teresa de Ávila e S. Francisco de Sales, que eles negavam qualquer autoridade pessoal para definir doutrina. Eles se curvaram voluntariamente, até alegremente, à autoridade do Papa e dos concílios. Eles podiam manter o ideal bíblico de unidade doutrinária (1Cor 1,10) sem afirmarem ser a fonte dessa unidade.
Estes santos também desafiaram o estereótipo de católicos que eu tinha. "Evangélicos" frequentemente assumem que são eles os únicos que têm uma “relação pessoal com Cristo”. Católicos, com seus rituais e instituições, são supostamente alienados de Cristo e da Bíblia. Apesar disso, encontrei (nos santos) homens e mulheres totalmente focados em Cristo e inebriados com sua Graça.
O teólogo católico que teve o maior impacto em mim foi, sem dúvida, Sto. Agostinho (354-430). Em toda a minha vida, ouvi que a Igreja primitiva era protestante e evangélica. Meus professores do seminário e até mesmo Calvino e Lutero sempre apontavam para Sto. Agostinho como seu grande herói da Igreja Primitiva. Quando eu finalmente pesquisei Agostinho, no entanto, descobri o Catolicismo completo. Agostinho amava a Bíblia e falou profundamente sobre a Graça de Deus, mas ele os compreendia no sentido católico. Ele destruiu o que restava da minha visão evangélica da história.
No fim, eu vi que cada coisa boa do Evangelicalismo já estava presente na Igreja Católica – a devoção calorosa à espiritualidade evangélica, o amor pela Bíblia e até mesmo, em certo ponto, a tolerância evangélica à diversidade. O Catolicismo sempre tolerou escolas de pensamento, várias teologias e liturgias diferentes. Mas, ao contrário do Evangelicalismo, a Igreja Católica possuía uma maneira lógica e consistente de distinguir entre o essencial e o não-essencial. O Magistério da Igreja, estabelecido por Cristo (Mt 16,18; 28,18-20), era a fonte daquela unidade que Calvino queria substituir.
Uma das coisas mais agradáveis da minha descoberta da Igreja Católica é que ela satisfaz plenamente meu desejo por raízes históricas. Eu comecei a estudar História acreditando na continuidade da fé e tentando desesperadamente encontrá-la. Até mesmo quando eu pensei encontrá-la na Reforma, eu ainda devia lidar com o enorme período da Idade Média, católica. Agora, graças ao que Calvino me ensinou, não existem mais pontas soltas. Em 16 de novembro de 2003, finalmente abracei a “fé que uma vez foi dada aos santos”. Eu entrei na Igreja Católica
terça-feira, 5 de julho de 2016
Creio (Credo)
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, creio em Jesus Cristo, seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro, dia subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde a de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.
Maria no Desígnio de Deus
1. Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio
ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.
A Humildade de Maria
2. Durante a vida, Maria permaneceu muito oculta. É por
isso que o Espírito Santo e a Igreja lhe chamam Alma Mater,
Mãe escondida e secreta. A sua humildade foi tão profunda,
que não teve na Terra atrativo mais poderoso nem mais contí-
nuo que o de se esconder de si mesma e de toda criatura, para
que só Deus a conhecesse.
Chamar o sacerdote de padre (pai) contraria a Bíblia?
RECEBEMOS DO LEITOR Marcelo Mattos a seguinte mensagem:
“Olá, pessoal! É com muito prazer que recorro a vocês, que muitas vezes foi fonte de esclarecimento acerca das doutrinas da Unica e Verdadeira Igreja de Cristo, para me esclarecer sobre um trecho da bíblia. Certa vez, vi uma citação de um irmão protestante, sobre o sacerdócio, a qual dizia: "E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus". (São Mateus 23, 9) Ele dizia que não podemos chamar o sacerdote de "padre", e que sequer devíamos ter padre, baseado nesse versículo. Poderiam me ajudar a sanar essa duvidazinha? Agradeço a atenção, e parabenizo o excelente trabalho de vocês. Abraços!"
Caríssimo Marcelo Mattos, em primeiro lugar agradecemos pela confiança depositada em nosso modesto apostolado. Para a elaboração deste nosso estudo, recorremos à consulta das aulas do fiel e valoroso Bispo Titular de Palmares (PE), Exmo. e Revmo. Dom Henrique Soares da Costa (foto), que já respondeu à mesma pergunta em sua página. Nosso desejo e nossa oração para que a leitura deste texto seja útil ao maior número possível de almas, ad maiorem Dei gloriam.
† † †
O título “Papa”, atribuído ao Sucessor de S. Pedro, pode ser traduzido por "pai". O termo “padre”, tão comumente atribuído aos presbíteros, de origem latina, também significa "pai". Estaria então a Igreja, na prática, desobedecendo a um preceito dado diretamente por Jesus Cristo, constante no Evangelho segundo S. Mateus (23,9), de não chamar a ninguém sobre a terra de pai? É o que veremos.
Um primeiro fato, que precisamos sempre manter em mente, é que o Evangelho nunca poderá ser reduzido à letra, isto é, às interpretações literais e isoladas de determinados versículos, porque "a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2Cor 3,6). É extremamente perigoso tomar uma palavra ou frase de Jesus e procurar compreendê-la fora de seu contexto próprio e de sua real intenção. Quem tenta fazê-lo, quase sempre, erra e trai a Vontade do Senhor. A Escritura somente pode ser compreendida no mesmo Espírito na qual foi escrita, e esse Espírito é Dom de Deus à sua Igreja. – É sumamente importante esta adesão de fé, esta atitude de fundo, porque sem ela as Sagradas Escrituras tornam-se pura fonte de erros, de confusão e de divisões sem fim.
Basta ver aonde a loucura do livre exame da Bíblia, apregoado por Lutero, levou o protestantismo: hoje são dezenas de milhares de seitas derivadas do movimento de protesto inicial, desde as mais radicais, imersas em fechamento e fanatismo fundamentalista, às mais liberais, que "casam" homossexuais e até os admitem como "pastores", "bispos" e "bispas". – Além disso, se a Bíblia afirma que é Deus nosso Pai maior, igualmente enfatiza que nosso "Pastor" é Jesus Cristo, conforme lemos no Evangelho segundo S. João (10, 12), e não homem algum. Se o questionamento quanto ao termo "padre" parte de um protestante/"evangélico", que tem a Bíblia como única regra de fé e prática, já começa descabido, pois aquele que acusa faz exatamente a mesma coisa, chamando seu orientador espiritual de "pastor".
Dito isso, vamos à questão propriamente posta. – Nosso Senhor afirma que não devemos tratar a ninguém por pai no contexto de uma polêmica com escribas e fariseus, que se pretendiam detentores da dignidade e da autoridade de pais espirituais da comunidade judaica, assumindo assim o privilégio da Promessa divina feita a Abraão. Longe de querer ensinar que seria pecado chamar, por exemplo, ao nosso progenitor de pai, o Cristo claramente diz que a Paternidade suprema, em sentido absoluto, – o Princípio e o Modelo perfeito de toda paternidade, – brota do Criador de todas as coisas, seu e nosso Pai do Céu.
Ninguém poderia ser verdadeiramente pai, a não ser em referência ao Pai de Jesus, e mais uma vez as Sagradas Escrituras o confirmam, mais adiante: "Dele procede toda a paternidade no Céu e na Terra" (Ef 3,14). Qualquer um que se considere pai espiritual sem reconhecer Jesus como o Filho do Pai verdadeiro, pleno e perfeito, trai o sentido da paternidade e usurpa a Paternidade divina, deformando-a.
Adiante, são muitos os caminhos que poderíamos tomar para demonstrar que a passagem em questão não pode ser tomada literalmente, por exemplo, simplemente considerando o Mandamento Divino de honrar pai e mãe. É o próprio Deus Todo-Poderoso, diretamente, ordenando que honremos nossos pais segundo a carne. Seria honroso a algum pai que seu próprio filho se negasse a chamá-lo de "pai"? Ora, se não podemos chamar a absolutamente ninguém de pai a não ser Deus, é assim que deveria ser, e haveria uma insolúvel contradição na Bíblia. Seria este um bom começo, uma boa reflexão inicial. Avançaremos, entretanto, bem além daí.
Outros casos semelhantes nas Sagradas Escrituras
No estudo acadêmico, aprendemos que a linguagem bíblica é, frequentemente, superlativa, generalizante. É próprio da pedagogia dos autores sagrados, por exemplo, usar às vezes o termo "todos" para dizer "muitos"; "eternamente" para dizer "muito tempo"; "sem fim" para dizer "grande quantidade"; etc. Assim, encontramos na Bíblia diversos paralelos muito semelhantes a este caso da proibição de se chamar a qualquer pessoa humana de pai.
É exatamente o mesmo quando Jesus diz à pessoa que se dobra diante dele e o chama "bom mestre": “Por que me chamais bom? Ninguém é bom, a não ser somente um, que é Deus” (Mc 10,18).
Esta passagem deveria ser extremamente desconcertante para todo aquele que, ao mesmo tempo em que se pretende cristão, elege a Bíblia como única regra de fé. Ora, se formos interpretar o texto ao pé da letra, como na passagem de S. Mateus (23,9) que estamos examinando, teríamos que dizer que Jesus não é Deus, porque ele parece repreender quem o chama "bom", dizendo que somente Deus é bom. E Será que Jesus não é bom? Então, Ele não é Deus? Além disso, estaria também dizendo o Senhor que não existiu nem existe nenhuma pessoa humana neste mundo que pudéssemos chamar de bom ou boa?
A resposta para todas as questões acima, evidentemente, é um grandioso e sonoro não. O que Jesus evidentemente está dizendo é que toda verdadeira bondade provém do Pai, e que toda bondade que não for imagem e expressão da Bondade do Pai não é verdadeira bondade.
Outro exemplo interessante, no mesmo sentido, é a passagem da Epístola aos Romanos (3,10), que afirma categoricamente: "Não há nenhum justo (no mundo); não há nem um sequer."
Mais uma vez, a linguagem superlativa, que tende às expressões generalizantes. Se não há nenhum justo no mundo, então como é que o Evangelho segundo S. Lucas (1,6) diz que Zacarias e Isabel, pais de S. João Batista, "eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os Mandamentos e preceitos do Senhor"? Além disso, o próprio Batista é chamado "varão justo e santo" (Mc 6,20). Há diversos outros exemplos, e também no Antigo Testamento encontramos as afirmações de que Noé e Jó, entre outros, eram justos.
Que fazer, então? Se a passagem de Romanos está correta, então as outras, que mencionam homens e mulheres justos, estão erradas? Ou teria S. Paulo Apóstolo se equivocado ao escrever aquela frase, e deveríamos então riscá-la de nossas Bíblias? Nem uma nem outra. A questão se resolve quando entendemos o que já demonstramos no início deste estudo: nem tudo o que se lê na Bíblia Sagrada deve ser entendido literalmente, e este é um dos motivos pelos quais o Senhor nos deu a Igreja, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15) para todo aquele que deseja segui-Lo, – porque é ela, a mesma Igreja, o Corpo do Cristo (1Cor 14-20), isto é, a continuidade histórica do Salvador no mundo. É por meio da Igreja, legítima autora (inspirada pelo Espírito Santo) e fiel depositária da Palavra de Deus (nas Escrituras e na Tradição, por ordem do Cristo), que podemos compreender a Mensagem que Deus tem para nós.
Encerrando definitivamente a questão
Retomando o tema central deste estudo, é preciso saber que na comunidade cristã sempre houve aqueles chamados de "pais" no sentido espiritual, exatamente porque fizeram de suas vidas expressão da Paternidade do Pai do Céu, Paternidade que sempre exprime amor, providência, acolhimento, misericórdia, cuidado.
Por fim, apesar de todo o exposto até aqui, também é possível demonstrar o erro de quem pensa que é proibido chamar a um ser humano de pai, porque somente Deus mereceria este título, do modo mais simples, grosseiro e óbvio: mostrando onde a própria Bíblia claramente o demonstra, como quando exorta os cristãos a chamaram seus pais humanos, simplesmente, de "pais". Ora, o texto sagrado diz: "Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo" (cf. Ef 6,1). Evidentemente, se não fosse permitido chamar a ninguém de Pai, senão exclusivamente Deus, a própria Bíblia não o faria.
No Antigo Tetamento, as Escrituras chamam Abraão de "Pai de uma multidão" de povos ou nações, sendo que no hebraico bíblico o nome do Patriarca possui este exato significado.
Mais ainda, S. Paulo mesmo se apresenta como pai espiritual dos fiéis que por meio dele foram convertidos:
“Eu vos escrevo como a filhos bem-amados. Ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, pois fui eu quem pelo Evangelho vos gerou em Cristo Jesus." (1Cor 4,14-15)
“Meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós.” (Gl 4,19)
Também S. João, na sua Epístola, chama frequentemente os cristãos aos quais se dirige de "filhinhos". Vemos assim que ele se considerava pai espiritual da comunidade a que se dirigia.
O que transparece claramente de toda esta realidade é que toda e qualquer paternidade na comunidade cristã deve ter como Fonte, Modelo e Expressão, a Paternidade de Deus. Qualquer outro tipo de paternidade espiritual é idolátrica e sacrílega; é blasfêmia contra o Nome do Pai, que Jesus revelou vivendo como Filho perfeito.
Além disso, ainda que alguns exerçam na comunidade uma função de paternidade, essa função tem como alicerce e fundamento uma outra: a relação de fraternidade, já que fomos feitos todos filhos do Pai do Céu e assim somos todos irmãos. O presbítero, o padre, tem uma paternidade espiritual em relação aos fiéis católicos, mas, antes disso, é também seu irmão em Cristo; antes de ser padre é cristão. Esta é a relação fundamental. Nossa dignidade primordial é sermos cristãos, irmãos em Cristo Jesus. Antes de qualquer paternidade em Cristo, vem a fraternidade recebida como Graça no santo Batismo.
DEUS VULT: como o estudo da fé católica me levou ao catolicismo
PUBLICAMOS O BELÍSSIMO testemunho de conversão de João Marcos, leitor que veio graciosamente compartilhar conosco sua inspiradora história. Consideramos que o texto tenha em si grande valor, porque além de motivar tantas outras pessoas que vivem histórias semelhantes (e que nos contatam quase diariamente), contém uma boa lista de indicações bibliográficas e de webpages que lhe foram de auxílio, – e que certamente poderão auxiliar também a muitos outros de nossos leitores. Segue...
Conversão de São Paulo, pintura medieval anônima
“Não existem cem pessoas que odeiam a Igreja Católica, mas existem milhões que odeiam aquilo que pensam ser a Igreja Católica.” (Venerável Arcebispo Fulton Sheen)
Este é o relato da minha conversão ao Catolicismo. É uma história pessoal, não um tratado de Teologia nem uma tentativa para converter alguém. Escrevi este relato para organizar meus pensamentos e facilitar quando perguntarem os motivos da minha conversão. No decorrer do texto indiquei vários livros ao leitor interessado em compreender os motivos que me levaram a tomar a decisão de seguir a Igreja Católica Apostólica Romana. Ao final eu proponho um roteiro de leituras para entender a fé católica e examinar as acusações que fazem à Igreja.
AVISO: Peço que leia os livros recomendados, em especial aqueles destacados em negrito, antes de tentar rebater as palavras aqui escritas. Não voltei para a Igreja por capricho ou comodismo; essa decisão custou muito esforço, oração e alguns sacrifícios. Esperar o mesmo do leitor é um ato de justiça. Quando o leitor discordar de algum ponto, o correto é buscar conhecer mais profundamente o que ensina a Igreja sobre o tema, o que dizem os grandes padres e apologistas católicos e então comparar com suas crenças. Aí sim o leitor poderá fazer um juízo sobre a fé. Só assim as suas palavras terão valor suficiente para serem ouvidas por mim. Ou como dizia um célebre e polêmico brasileiro: “Eu acho que o direito de ter opinião é proporcional ao interesse sincero que você tem pelo assunto. Se você não tem interesse pelo assunto para você sequer ler alguma coisa, por que nós devemos ter interesse de ouvir a sua opinião? ” (True Outspeak – 10.03.2008)
* * *
Sempre fui cristão. Fui batizado na Igreja Católica quando eu era um bebê. Por volta dos meus 6 anos, eu e minha família fomos para a igreja protestante. Desde então, minha família frequentou inúmeras denominações, quase todas tradicionais, e nunca mais tive contato com o catolicismo.
A 'Idade das Trevas'
Com o advento do "Facebook" logo me envolvi em discussões com ateus (eu prefiro chamá-los “neoateus”, por fazerem parte de uma geração recente de ateus militantes e superficiais cujo maior “guru” é Richard Dawkins, mas tem entre seus expositores famosos Neil deGrasse Tyson, Sam Harris e Christopher Hitchens). Não tardou em aparecer o famoso argumento da Idade das Trevas: durante o período de mil anos entre 500-1500 a Igreja Católica oprimiu o Ocidente através do misticismo e da ocultação do conhecimento, além de perseguir oponentes por meio da Inquisição. Isto bastava para comprovar que a religião, especialmente o Cristianismo, está na contramão do progresso, da ciência e da liberdade individual.
Sendo cristão é meu dever conhecer e testemunhar da verdade. Então comecei a estudar a tal Idade das Trevas para verificar se a Igreja foi responsável por tamanha crueldade. Pobre de mim! Descobri que aconteceu exatamente o contrário: num milênio de caos, fragmentação política, invasões de povos selvagens e peste, a Igreja foi a única instituição ocidental a manter-se estável, um verdadeiro porto seguro. O conhecimento da época dos gregos e romanos foi preservado através de muito trabalho dos clérigos católicos, como por exemplo os monges copistas, responsáveis por copiar livros inteiros à mão. Em vez de combater a ciência, a Igreja foi por muitos séculos a única instituição a fomentar o desenvolvimento científico na Europa. Ela foi a criadora das universidades, seus clérigos traduziram muitas obras da época romana e grega, além de permitir que debates acalorados com pensadores de outras culturas acontecessem dentro das suas universidades.
Essas e outras contribuições da Igreja Católica ao mundo ocidental estão cuidadosamente listadas no livro "Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental", de Thomas Woods Jr (baixe gratuitamente aqui).
Quanto à famosa Inquisição minha surpresa foi ainda maior: aproximadamente 2000 pessoas foram condenadas à morte pelos Tribunais da Inquisição medievais (1231-1400dC). Durante as inquisições da Espanha e Portugal, as mais violentas, 6000 pessoas morreram nos 500 anos de duração dos tribunais eclesiásticos ibéricos. Considerando a população ibérica e europeia nos níveis da Idade Média (bem baixos, o que aumentará o valor que mostrarei a seguir, de forma a mostrar ao leitor o “pior caso” da Inquisição), temos que a pior inquisição, a ibérica (de Portugal e Espanha) condenou à morte 17 pessoas a cada 100 mil habitantes, por ano. A inquisição medieval, mais branda, condenou à morte 0,08 pessoa a cada 100 mil habitantes, por ano (fontes: Fordham University / Catholic Bridge). Só para comparar, no Brasil 22 pessoas a cada 100 mil habitantes morreram em acidentes de trânsito (dados de 2013).
O grande historiador protestante Phillip Schaff afirma em seu livro "History of the Christian Church” (vol. V, New York, 1907, p.524):
“Para vergonha das igrejas protestantes, a intolerância religiosa e até a condenação à morte continuaram muito tempo depois da Reforma. Em Genebra esta perniciosa teoria foi posta em prática pelo Estado e pela igreja, admitindo até mesmo o uso de tortura e do testemunho de crianças contra seus próprios pais, com a autorização de Calvino. Bullinger, na Segunda Confissão Helvética, anunciou o princípio pelo qual a heresia poderia ser punida como os crimes de assassinato ou traição.”
Não se trata da tática petista de justificar um erro apontando o erro do outro. Tortura é inaceitável sob qualquer ponto de vista. No entanto, devemos ser justos e agir com a mesma rigidez no caso dos morticínios realizados por outros grupos, como protestantes (veja o caso dos Anabatistas e a caça às bruxas, fenômeno exclusivamente protestante – saiba mais aqui), islâmicos (sem comentários, os franceses que o digam) e mesmo ateus: durante a Revolução Francesa, que nos ensinam ter sido fundamentada nos princípios de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”, foram mortas 140 mil pessoas em cinco anos segundo a Enciclopédia Encarta. Quer dizer, uma revolução de cunho ateu matou 100 pessoas a cada 100 mil habitantes por ano, 5 vezes mais do que a pior inquisição (só pra constar, no Brasil morreram 28 pessoas a cada 100 mil habitantes por homicídio em 2013: a Revolução Francesa matou 3 vezes mais que os criminosos brasileiros).
Para encerrar este assunto, a própria Igreja admitiu os abusos cometidos na Inquisição. Tanto que ela abriu os arquivos da Inquisição a um grupo de 30 historiadores reconhecidos internacionalmente, para que eles investigassem os fatos.
Todos esses fatos sobre a inquisição católica estão documentados em vários livros, entre os quais destaco: "Atas do Simpósio sobre a Inquisição" (1998), de Agostino Borromeo, "A Idade Média que não nos ensinaram", de Regine Pernoud, "Sete Mentiras sobre a Igreja Católica", de Diane Moczar.
Este estudo sobre o papel essencial da Igreja Católica na Idade Média fez com que eu a admirasse. Mas isso era só o começo. No início de 2015 decidi então conhecer a fé católica. Se o papel histórico da Igreja Católica na Idade Média foi muito diferente do que me ensinaram, será que a fé católica não me surpreenderia também? Era isto o que eu precisava conferir.
Escolhi livros que explicassem a fé católica ao público protestante e testemunhos de conversões de protestantes ao catolicismo. São estes: "Catholicism for Protestants", de Shane Shaetzel, "Rome Sweet Home", de Scott e Kimberly Hahn (encontrado no Brasil sob o título 'Todos os Caminhos levam a Roma'), "Born Fundamentalist, born Again Catholic", de David Currie, e "A Fé Explicada", do Pe. Leo J. Trese. Todos os conceitos mencionados daqui em diante foram exaustivamente explicados nesses livros.
Da minha experiência pessoal, creio que os principais problemas dos protestantes/evangélicos com o Catolicismo são a veneração dos santos e de Maria. Existem outros pontos de conflito, mas estes dois são os primeiros que surgem à mente do protestante comum.
Naturalmente, estes foram os primeiros problemas que procurei por explicações. Tratam-se da Intercessão dos Santos. Por que o católico reza a Maria e aos santos? Isso não é idolatria? Não. O católico não considera a oração uma forma de adoração. Da mesma forma que pedimos oração a outros irmãos da igreja, o católico pede oração a pessoas que viveram vidas extraordinárias aqui e que agora estão vivas no Céu, diante de Deus.
Especificamente no caso de Maria, a mãe de Deus, creio que grande parte do problema protestante se resolva ao compreender como os católicos entendem a Intercessão dos Santos. Só resta acrescentar que ao católico é dogma de fé que Maria é a criatura mais santa dentre todas as criaturas de Deus. Os motivos dela ser assim considerada estão nos documentos da doutrina católica, e o estudo das doutrinas marianas chama-se Mariologia. Temos então o seguinte raciocínio:
1) A oração dos santos é mais eficaz porque eles estão em plena Comunhão com Deus, no Céu.
2) Maria é a mais santa dentre todos os santos.
3) Logo (aceitas as premissas 01 e 02), é razoável pedir que Maria interceda por mim diante de Cristo.
Ao entender isto, fica fácil entender também porque os católicos devotam tantas orações e cerimônias aos santos em geral e à Maria em particular. Eles não acreditam que santos são “deuses” e sim que os santos, hoje no Céu, são excelentes intercessores dos simples cristãos que estão aqui. Recomendo ler o que ensina oficialmente a Igreja a respeito de Maria: parágrafos 963-975 do Catecismo.
O último conceito que é útil estudar para entender os católicos neste assunto dos santos é a diferença entre adoração e veneração. Adoração é o culto prestado unicamente a Deus. Assim como na tradição judaica, o católico acredita que não existe verdadeira adoração sem oferecimento de sacrifício, que é o que acontece na Missa. O católico só oferece sacrifícios a Deus. Já a veneração é uma forma de prestar homenagem, uma demonstração pública de respeito. Da mesma maneira como homenageamos grandes personalidades políticas, artísticas ou dos negócios, o católico homenageia, dentro do contexto cristão, aqueles que viveram vidas exemplares.
Ao contrário do que muitos pensam, a Igreja tem 2 mil anos de idade e já estudou profundamente os Mandamentos de Moisés, em especial os dois primeiros (sobre a idolatria e imagens). O Catecismo faz um resumo (citando a Bíblia, como sempre) nos parágrafos 2129-2132.
Então, a meu ver, se é ilícito venerar os santos e encomendar-lhes orações, então é muito mais ilícito homenagear qualquer pessoa desta terra, ou pedir que algum irmão ore por mim. Se os santos, que viveram unicamente para Cristo, são indignos de homenagem, quão dignos seremos nós, meros mortais que não conseguem passar 01 dia se sacrificando por Deus?
Existem muitos bons livros dedicados a explicar a devoção mariana, seu surgimento e desenvolvimento na História e porque ela não é uma forma de idolatria. Recomendo três livros que tratam toda essa questão num único volume: "Behold your Mother", de Tim Staples;"Mary, Mother of the Son", de Mark Shea e "The Marian Mystery: Outline of a Mariology", de Denis Farkasfalvy. Estes livros demonstram que já nos primeiros séculos de Cristianismo havia devoção à Mãe de Deus.
Dos motivos de não continuar protestante
Entender essas práticas católicas serviria apenas para desmistificar a minha visão do catolicismo. Não foi isso que me fez mudar de vida. Foi somente quando estudei e refleti sobre dois assuntos pouco tratados pelos protestantes que fiquei numa posição insustentável e tive que tomar a decisão sobre minha fé.
O principal fundamento teológico do Protestantismo, isto é, de todas as denominações não-católicas que surgiram a partir do ano 1500 é o Sola Scriptura. Este princípio ensina que “somente a Escritura é a suprema autoridade em matéria de vida e doutrina; só ela é o árbitro de todas as controvérsias” (cf. http://mackenzie.br/6966.html, acesso em 26.7.2015). É ele que justifica a famosa pergunta dos "evangélicos": “Onde isso está na Bíblia?”. Esta é a pergunta que os católicos mais escutam dos protestantes.
O grande problema com o Sola Scriptura é que ele mesmo não é bíblico. Você leu isso mesmo. O princípio que afirma que a Bíblia é a única autoridade em matéria de fé não é bíblico. Não precisa acreditar em mim. Procure na Bíblia. Pergunte a qualquer teólogo protestante em qual parte da Bíblia está o Sola Scriptura. Ele não saberá responder. O que me deixou mais chocado foi descobrir que o Sola Scriptura é simplesmente aceito como um dogma, uma ideia que não precisa de provas [é irônico os protestantes acusarem os católicos de dogmáticos quando a base da crença protestante é um superdogma sem fundamento]. E isso não sou eu quem diz:
“Existem evidências internas e externas da inspiração e divina autoridade das Escrituras, mas estes atributos não são passíveis de 'prova'. A única evidência que importa é o “testemunho interno do Espírito” no coração do leitor. Ênfase de Calvino: 'A menos que haja essa certeza [pelo testemunho do Espírito], que é maior e mais forte que qualquer juízo humano, será fútil defender a autoridade da Escritura através de argumentos, ou apoiá-la com o consenso da Igreja, ou fortalecê-la com outros auxílios. A menos que seja posto este fundamento, ela sempre permanecerá incerta' (8.1.71).” (Fonte: http://mackenzie.br/6966.html acesso em 26.07.2015)
Ou seja, a “prova” de que uma interpretação particular da Bíblia é inspirada por Deus é uma “certeza maior e mais forte que qualquer juízo humano”. Basta se sentir certo para estar correto(!).
Tome a seguinte afirmação: “Não existe verdade”. Quando alguém afirma isso já se contradiz, porque essa mesma frase é em si mesma uma verdade (ou a pessoa pensa que é uma verdade). Na verdade, o que a pessoa quis dizer é: “Não existe verdade – exceto esta aqui”. É um princípio arbitrário, afinal, só é verdade porque quem o enuncia diz que é verdade. Um princípio falho em si mesmo não pode ser verdade. É o mesmo problema do Sola Scriptura.
O Sola Scriptura não encontra fundamentação bíblica e nem histórica. Os cristãos primitivos, aqueles que viveram nos primeiros 300 anos depois de Cristo, nunca pronunciaram o Sola Scriptura, pelo contrário. Todos acreditavam na necessidade de existir uma autoridade central, outorgada pelo próprio Cristo, para interpretar as Escrituras. Um testemunho famoso (mas não o único) é o de Santo Agostinho: “Eu não acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (CIC, 119). Em sentido oposto, não há nenhum registro dos primeiros cristãos afirmando que as Escrituras são a única e suprema autoridade na fé.
Outro problema com o Sola Scriptura é que nos primeiros 300 anos de Cristianismo não existia Bíblia. É isso mesmo. O cânon, o conjunto dos livros cristãos que formaram a Bíblia, só foi definido e ntre 367 e 405 dC(curiosamente, até um historiador protestante reconhece estas datas: veja aqui). Durante todo esse período, qual foi a autoridade suprema dos cristãos em matéria de fé? Pior: até a invenção da imprensa em 1455 pouquíssimos livros estavam em circulação, porque eram de difícil produção e conservação. Assim, a quem os cristãos podiam recorrer durante quase 1500 anos, já que poucos deles tinham acesso às Escrituras?
Além disso, “pelos frutos os conhecereis”: hoje existem dezenas de milhares de denominações protestantes, e cada uma delas alega possuir a “verdadeira interpretação” das Escrituras. Quem está falando a verdade? Qual é a verdadeira fé e a verdadeira igreja? Qual o modo correto de interpretar a Bíblia? O que vale pra hoje e o que não vale mais? [o Espírito Santo entraria em evidente contradição, ensinando uma coisa a determinada comunidade e outra coisa diferente, – muitas vezes mesmo contraditória, – a uma outra comunidade?]
Para ilustrar a fragilidade do Sola Scriptura, elencarei os 5 pontos levantados no vídeo abaixo [já publicado anteriormente aqui em 'O Fiel Católico']:
1) Onde a Bíblia diz que eu devo provar alguma coisa pela Bíblia?
2) Por que a minha interpretação da Bíblia (em meu caso, fundamentando a doutrina católica) está errada e a sua correta? Eu também estou me guiando pela Bíblia, nós só discordamos no que ela quer dizer.
3) Talvez você não está compreendendo o significado correto da Bíblia. Um exemplo: se eu lhe escrever o seguinte bilhete: “Eu não disse que você roubou dinheiro.” você conseguiria entendê-lo? Parece que sim, mas uma frase de 07 palavras pode ter vários significados. Pode ser que EU não disse que você roubou dinheiro, mas alguém disse. Pode ser que eu não DISSE, mas posso ter escrito ou pensado que você roubou dinheiro. Pode ser que eu não disse que VOCÊ roubou dinheiro, posso ter falado de outra pessoa. Pode ser que eu não disse que você ROUBOU dinheiro, você pode ter perdido ou queimado dinheiro. Pode ser que eu não disse que você roubou DINHEIRO, você pode ter roubado outra coisa. Uma simples frase de 07 palavras tem pelo menos cinco significados diferentes, a depender da ênfase dada a cada palavra. Agora me responda: não é a Bíblia muito mais complicada que uma frase de 07 palavras?
4) O que está em confronto não é o que a Bíblia ensina, mas o que nós interpretamos da Bíblia.
5) De onde vieram os livros do Novo Testamento? Como eles foram parar na Bíblia? Quem afirma rejeitar a Tradição porque segue apenas a Bíblia não pode fazer isso, porque foi a própria Tradição católica quem escolheu quais livros pertencem ao Novo Testamento. Em lugar algum a Bíblia diz quais livros fazem parte dela. Então, o simples fato de ser “biblista” só é possível graças à Tradição católica.
A Bíblia não caiu do Céu. Durante quase 400 anos os cristãos lutaram para reconhecer, aos poucos, os livros inspirados, até que concílios católicos, compostos por bispos católicos, definiram os livros da Bíblia. Foi a autoridade da Igreja que encerrou a discussão sobre os livros inspirados.
Então, para encerrar este assunto Sola Scriptura, e resumindo toda a questão: não é bíblico, não é lógico, não é histórico e teve consequências catastróficas para o Cristianismo. Foi um conceito inventado depois de 1500 anos de Cristianismo. Sendo assim, é no mínimo prudente considerar que a posição católica (de acreditar na autoridade da Bíblia, mas também na da Tradição conservada pela Igreja) é no mínimo plausível. Não estou pedindo para você se converter, apenas para reconhecer que não é absurdo a Palavra de Deus não se restringir a um livro. Isto é o mínimo que se espera de alguém honesto consigo mesmo.
Por fim, o problema Sola Scriptura foi discutido exaustivamente por muitos autores católicos. Alguns livros que eu recomendaria a quem deseja saber como o católico trata esse princípio seriam estes: "Not By Scripture Alone", de Robert Sungenis (uma verdadeira 'bomba atômica' contra o Sola Scriptura), e "100 Biblical Arguments Against Sola Scriptura", de Dave Armstrong.
Diante de tudo isso, eu não podia mais aceitar o fundamento do Protestantismo, o Sola Scriptura. A Bíblia sozinha não é suficiente para resolver todos os conflitos da vida cristã. Simplesmente havia coisas demais sendo “deduzidas” (eu prefiro dizer ‘inventadas’) no calor do momento de uma época. Isso sem mencionar que a Bíblia é uma coleção de livros complexa demais para que um fiel comum, sem condições de estudar grego, latim, hebraico , aramaico, Filosofia e Teologia, pudesse interpretar de forma mais correta que o corpo de toda a Tradição cristã de 2 mil anos. Seria muita arrogância. Foi nesse momento que eu, pelo menos em consciência, deixei o Protestantismo.
Rome, Sweet Home
[Nota de Henrique Sebastião, editor de 'O Fiel Católico': o segundo Motivo que será apresentado pelo autor para deixar o Protestantismo, a seguir, é exatamente o mesmo Motivo final e definitivo de minha própria conversão à Igreja de Cristo]
Deixar o Protestantismo e todas as denominações protestantes é uma coisa. No entanto, faltava um motivo claro e inegável para eu aceitar a Igreja Católica.
Este motivo foi a Eucaristia.
A Eucaristia é centro de toda a fé católica. À distância, [até se] parece com a “Santa Ceia” dos protestantes, porém infinitamente mais carregada de sentido e importância: o católico acredita que na Eucaristia o pão e o vinho se transformam, milagrosamente, no Corpo e no Sangue de Cristo. Assim, podemos dizer com razão que o católico “absorve” o próprio Cristo, presente de maneira real na celebração da Eucaristia. Loucura? Canibalismo? Bom, os católicos não foram os primeiros a ouvirem essas acusações.
No Evangelho de João, capítulo 6, o próprio Cristo profere estas palavras:
“Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a Carne do Filho do homem, e não beberdes o seu Sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha Carne é verdadeiramente Comida, e o meu Sangue verdadeiramente é Bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por mim.” (João 6,53-57)
Logo em seguida, pela primeira vez em seu Ministério, Jesus perde discípulos por causa de um ensinamento. Eles consideraram essas palavras de Jesus “muito duras” (vs 60).
A resposta de todo protestante é alegar que Jesus disse essas palavras no sentido figurado, isto é, comer sua Carne e beber seu Sangue seria um símbolo. [Ora, é claro como água límpida que esta versão é simplesmente absurda! Se fosse apenas um símbolo, por que alguns ou muitos discípulos se escandalizariam a ponto de deixar de seguir Jesus? Eles estavam acostumados com as parábolas do Mestre. Por que razão apenas quando Ele ensinou que seu Corpo e Sangue, literalmente, se tornariam Pão e Vinho, e que os verdadeiros seguidores deveriam se alimentar dEle, criou-se tanto celeuma?]
Outro problema com essa versão é que ela faz de Jesus um insensível que gostava de induzir seus seguidores ao erro e à blasfêmia. Explico. Em todo o Evangelho (nos 04 livros, Mateus, Marcos, Lucas e João) Jesus Cristo fez questão de explicar o significado de suas palavras quando falava por meio de linguagem simbólica, ou em parábolas. Veja no caso do “nascer de novo” a Nicodemos (João 3) e em todas as parábolas (semeador, joio e trigo, videira, talentos, etc). Jesus Cristo, sendo Deus, não induz pessoas ao erro, ao pecado gravíssimo da blasfêmia. No entanto, justamente no caso da Eucaristia, Ele se calou. O único cenário que justifica Jesus permitir que vários dos seus discípulos O abandonassem é por ter dito exatamente o que Ele quis dizer. Não há forma mais clara de dizer que deveríamos beber Seu sangue e comer Sua carne.
Além da evidência do próprio Cristo, há a evidência histórica: já os primeiros Apóstolos, e seus primeiros sucessores, acreditavam que Jesus estava realmente presente no Pão e no Vinho da Ceia. É por isso que Paulo fez a famosa advertência em 1 Coríntios 11,29: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.” É pecado grave participar da Ceia sem discernir ali o corpo de Cristo. Ora, se fosse apenas pão e vinho como símbolos do Corpo e Sangue do Senhor, porque esta tão severa e específica advertência?
Mais: ainda que os protestantes insistam em dizer que a Ceia é apenas um memorial, a palavra em aramaico que Jesus utiliza para falar de Seu corpo na Ceia é a mesma que Ele usa para falar de Seu corpo na cruz! Tornar o corpo de Cristo na Ceia simbólico é tornar a Crucificação simbólica(!).
Estas e outras provas a favor da Presença Real de Cristo na Eucaristia estão muito bem explicadas nos livros que eu grifei no meio deste relato. Além deles, o melhor livro sobre esse assunto provavelmente é "O Banquete do Cordeiro", de Scott Hahn.
Sabendo que o Cristo, capaz de sofrer uma morte cheia de torturas por nós, não seria capaz de perder discípulos por causa de uma confusão de palavras, eu não tenho motivos para acreditar em outra coisa que não seja o sentido literal das palavras de Jesus: que precisamos comer Sua carne e beber Seu sangue para ter vida em nós. E conhecendo que na Igreja Católica eu poderei participar do Banquete do próprio Cristo, o Noivo, o Cordeiro, e que Ele, Deus encarnado, encontra-se fisicamente presente na Santa Missa, somente o orgulho obstinado poderia servir de motivo para não me render à Igreja Católica Apostólica Romana.
O que mais eu deveria fazer se soubesse que Jesus Cristo está fisicamente presente em algum lugar?
“E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mateus 28,20)
* * *
Este é o breve relato dos motivos da minha conversão ao Catolicismo. Não tenho a intenção de torná-lo um tratado religioso ou histórico sobre a fé católica e, por essa razão, não tratei de outros temas de conflito com protestantes. Pra isso existem centenas de (bons) livros, e eu posso indicar alguns ao leitor interessado e honesto, o primeiro deles é o “manual” católico, – o CIC. – Por fim, que estas palavras sejam acolhidas em terreno fértil, para que produzam muitos frutos para a glória de Deus, nosso Pai.
Em Cristo Jesus Nosso Senhor,
João Marcos
Olímpia, São Paulo, 28.07.2015
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Complemento da bibliografia recomendada e indicações do autor
4. O excelente (foi o primeiro livro sobre a fé católica que eu li) "Catholicism for Protestants", por Shane Shaetzel. Neste livro o autor, católico bem no meio do Bible Belt (a região mais protestante dos EUA), responde de maneira curta, organizada e dentro da doutrina católica às dúvidas levantadas pelos protestantes. É um excelente material para começar a remover preconceitos sobre a Igreja.
6. Testemunhos de convertidos à Igreja Católica: eu sempre achei que só pessoas desonestas permaneceriam ou se converteriam à Igreja Católica. Estava redondamente enganado. E foi só depois que eu saí do meio (protestante) é que percebi como a grande maioria dos protestantes ainda pensa isso dos católicos. Espero que estes livros e vídeos ajudem a desmistificar esta falsa noção:
• "Ex-pastor Paulo Leitão se converte ao Catolicismo", um testemunho emocionante em vídeo (assista aqui);
• O testemunho brilhante da conversão de Fábio Salgado à Igreja Católica (repleto de dicas de livros, leia aqui);
• "Lista de 201 ex-protestantes conversos ao Catolicismo" (leia aqui);
• Todos os membros da "Igreja Cristã Maranatha" (Detroit, EUA) se convertem ao Catolicismo (leia aqui).
Com esses testemunhos espero que o leitor entenda que pessoas com motivos sérios, fundamentados, e com uma prática de vida piedosa, escolheram a Igreja Católica. Não é uma escolha por conveniência, malícia ou ignorância. Muitas dessas pessoas perderam amigos, familiares e todo seu círculo social de uma vida inteira quando escolheram a fé católica. Todas elas eram cristãos estudiosos, inteligentes, conhecedores da Bíblia e ativos na vida ministerial das suas igrejas. Se meu exemplo não basta, espero então que o exemplo desses irmãos em Cristo o ajudem a perceber que a fé católica não é uma mentira ou tradição de homens.
O TEMA ESTÁ mais do que batido, mas fizemos questão de republicar este artigo que completa a nossa antiga trilogia sobre a questão das imagens na Igreja, conforme havia sido postada em nosso antigo blog "Voz da Igreja". Segue.
Só para (não) variar, o assunto "imagens na Igreja" continua criando confusão na cabeça dos nossos irmãos separados, os ditos "evangélicos". – Neste ponto abrimos parênteses para esclarecer que usamos a palavra entre aspas porque "evangélicos", na realidade, sempre fomos e continuaremos sendo nós, os cristãos católicos. Afinal, o termo evidentemente, deriva de "Evangelho". E não foi a Igreja Católica que nos legou, através dos Apóstolos, os santos Evangelhos? Não devemos à Igreja Católica a canonização dos Evangelhos, o que revelou a todos os cristãos quais, dentre os livros venerados pelas primeiras comunidades, eram autenticamente inspirados por Deus e deveriam ser considerados "Palavra de Deus" escrita, e quais não? Não foi a Igreja Católica que preservou os Evangelhos dos nossos inimigos, durante tantas e tão cruéis perseguições no decorrer dos séculos? Como poderia um grupo nascido da desobediência de um monge rebelado, mais de um milênio e meio depois de Jesus Cristo, ser a "igreja evangélica"? A Igreja Evangélica de ontem, hoje e sempre é a Igreja Católica Apostólica Romana: este é um fato insofismável, tanto histórica quanto teologicamente falando.
Adentremos, por fim, ao tema deste artigo, na resposta à contestação abaixo, que nos foi enviada anonimamente:
“'Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça'. Vocês tem razão, a Bíblia fala das imagens, realmente as pessoas rezavam pros querubins e pra serpente =], mas vocês não leram tb aquela parte da Biblia que diz que Jesus é o supremo sacerdote?? Devemos pedir a ele."
Sim, Jesus é o Supremo Sacerdote, leitor anônimo. É exatamente nisso que nós, católicos, cremos. E não cremos nisto exclusivamente porque está escrito, porque crer só no que está escrito literalmente na Bíblia seria contrariar a própria Bíblia. Sabe por quê? Porque a Bíblia mesmo diz que é a Igreja a coluna e o sustentáculo da Verdade para todo cristão, e não apenas as Escrituras, lidas isoladamente (1Tm 3,15).
Analise esta passagem e observe que nela a Escritura diz de si, textualmente, que estava sendo escrita para que soubéssemos como nos portar na Igreja! A Igreja é a coluna e sustentáculo (outras traduções dizem "coluna e fundamento"). A base da nossa fé é a Igreja instituída por Jesus Cristo, e não a Bíblia sozinha.
As Escrituras são sagradas para nós, sim, são a Palavra de Deus escrita, e são muitíssimo "úteis para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça" (2Tm 3,16), mas não são e nem jamais foram a única base, o exclusivo fundamento dos cristãos. Nos primeiros séculos do cristianismo, na Igreja primitiva, a Bíblia simplesmente ainda não existia. Como se guiavam estes primeiríssimos seguidores de Cristo? Guiavam-se através da instrução da Igreja, a única Igreja que Cristo deixou e que tem dois mil anos de idade: a Igreja Católica (Universal).
Agora observemos este ponto fundamental: o trecho da Segunda Carta a Timóteo, citado acima (cap. 3, vs. 16), segundo a interpretação mais precisa, diz textualmente isto:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para instruir em justiça." (Bíblia de Jerusalém, católica)
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça." (Almeida corrigida e revisada fiel, protestante)
Observe-se bem que o Apóstolo não diz que toda a Escritura divinamente inspirada é útil... Ele diz que "toda a Escritura é inspirada". Pode parecer um detalhe, mas este detalhe faz toda a diferença. Ocorre que a afirmação do autor sagrado parte da premissa de que todos os que forem lê-lo já sabem de quais Escrituras ele está falando. E (pasmem, talvez, muitos dos nossos leitores) estas Escrituras não são as nossas! Ora, que sagradas Escrituras haviam no tempo de S. Paulo? Sabemos que ele morreu em aproximadamente 67 dC, assim, esta sua epístola a Timóteo é, evidentemente, anterior a esta data. É claro, então, que o Novo Testamento, – que é a consumação e a chave de toda a Bíblia Sagrada cristã, – não existia no tempo em que o Apóstolo escreveu "toda a Escritura é inspirada".
Mais do que isso, sabemos que não existiu o Novo Testamento por séculos após a redação da 2ª Carta a Timóteo. As únicas Escrituras sagradas disponíveis para Paulo eram os livros que compõem o Antigo Testamento. Portanto, não se pode usar este versículo para justificar aSola Scriptura, a não ser rejeitando todo o Novo Testamento.
"Toda a Escritura é inspirada por Deus", disse S. Paulo Apóstolo. Mas a qual "Escritura" ele se refere? A única Escritura disponível naquele tempo era o Antigo Testamento hebraico, bem como sua tradução grega, aSeptuaginta. Isto põe nossos irmãos separados na difícil situação de ter que aceitar os livros "deuterocanônicos", que estavam na Septuaginta grega, usada pelos judeus de língua grega inclusive Paulo. Foram estes os sete livros rejeitados por Lutero, 1500 anos depois (Sabedoria, Eclesiástico, Judite, Tobias, 1Macabeus, 2Macabeus e Baruque).
Uma vez que essas duas traduções eram as únicas disponíveis para Paulo e ele disse que toda Escritura era inspirada por Deus, então também estes sete livros foram inspirados por Deus. Ou não? Se não, quem teria a autoridade para removê-los? Ora, a própria Bíblia proíbe que se acrescente ou retire algo da Palavra de Deus e adverte quanto ao que acontecerá para aquele que o fizer (Ap 22,18-19).
No alto, o "pastor Lucinho" cheira a Bíblia como se estivesse aspirando cocaína; abaixo, o "pastor Elvis Breves" literalmente põe a Bíblia no prato e a come, de garfo e faca (vídeo aqui).
O maior erro dos que se chamam a si mesmos "evangélicos" é pensar que a Bíblia é mais importante do que a Igreja, porque não é. Não adianta discutir sobre imagens, sobre o culto, sobre Maria, os santos, os Sacramentos ou qualquer outro assunto se não retirarmos da frente este engano fundamental. Jesus não escreveu livro algum. Sendo Deus, Ele sabia que seus seguidores precisariam de um guia no Caminho que ele nos deu (que é Ele próprio, conf. Jo 14,6), uma rocha sólida para se apoiarem no mar incerto de doutrinas que sempre agitaram o mundo. Por que então não escreveu suas regras, detalhadamente, dizendo o que esperava de nós e como deveríamos proceder para alcançarmos a salvação?
Talvez porque isso não tivesse dado certo na Antiga Aliança. O povo eleito se perdeu em mil interpretações da Lei (Torá ou Chumash, os cinco primeiro livros da Bíblia cristã, o Pentateuco), dos oito livros dos Profetas (Neviim) e dos onze livros chamados "Escritos" (osKetuvim), e seu coração se endureceu. Assim, o Senhor preferiu fundar, diretamente, sua Igreja neste mundo, e garantiu que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (veja Mateus 16, 18). Fundou sua Igreja sobre o Apóstolo Pedro, e ainda confirmou esta missão quando lhe apareceu, após a Ressurreição, e lhe ordenou que apascentasse seus cordeiros e suas ovelhas (Jo 21,15-17).
Acaso a Bíblia mostra, em algum versículo, Jesus ensinando aos seus seguidores que deveriam se orientar, exclusivamente, pelas Escrituras, como "única regra de fé e prática"? Não. Mas a Bíblia mostra, insistentemente, a importância fundamental da única e una Igreja de Cristo para a nossa salvação.
Acontece que a Bíblia é um livro, e mesmo sendo o Livro Sagrado dos cristãos, divinamente inspirado, está sujeita a interpretação particular de dada pessoa que a lê. Por isso a própria Bíblia adverte, com grande ênfase: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal (2Pd 1,20)".
Existem hoje milhares de "igrejas" que ensinam coisas diferentes, crendo firmemente que sua interpretação da Bíblia é a correta, que estão sendo assistidos por Deus. Agora pense: se fosse para cada um ler a Bíblia, interpretar "do seu jeito" e sair por aí fundando novas "igrejas", por que Jesus Cristo deu autoridade sobre sua Doutrina aos Apóstolos? Ora, assim que instituiu sua Igreja sobre Pedro, Jesus disse a este mesmo Pedro que tudo o que ele ligasse na Terra seria ligado no Céu, e o que ele desligasse na Terra seria desligado no Céu (Mt 16,18). Posteriormente transmitiu esta mesma autoridade à sua Igreja, na pessoa dos Apóstolos, os primeiros presbíteros (Mt 18,18) e ainda lhes assegurou que os pecados que eles perdoassem seriam perdoados, e os que eles não perdoassem seriam retidos (Jo 20, 23).
Esta é a autoridade que a Igreja possui neste mundo, dada diretamente pelo Cristo.
Por isso, mais uma vez a Bíblia confirma a Doutrina católica ao advertir: "Irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavras, seja por epístola nossa" (2Ts 2,15); e ainda: "Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a Tradição que de nós recebeu." (2 Ts 3,6). As epístolas dos Apóstolos formam a maior parte do Novo Testamento da Bíblia. Vemos aí a própria Bíblia afirmando categoricamente que devemos observar e guardar não só as Escrituras, mas também a Tradição da Igreja. Claro como água!
As tradições dos homens, a tradição dos antigos fariseus, foi substituída pela Tradição Cristã: Tradição esta que inclui a própria Bíblia Sagrada cristã. A autoridade de fé sobre a doutrina de Jesus Cristo está fundamentada na Igreja que Ele edificou sobre a Terra, e não somente na Bíblia Sagrada, que foi produzida, preservada e deve ser interpretada pela própria Igreja. Estando claros esses pontos fundamentais, abordemos, enfim, a questão das imagens.
"Pastores evangélicos" prostrados diante de uma réplica da Arca da antiga Aliança. Note-se que a Arca era utilizada como Canal de comunicação com Deus antes da vinda de Cristo, quando Deus ainda não havia estabelecido sua Nova e Eterna Aliança com a humanidade. Qual o sentido de se fazer uma réplica da Arca da antiga Aliança, agora que temos Jesus Cristo em Pessoa, que se doa no Pão e no Vinho (conf. Jo 6,27; 51; 55-57. Mt 26,26-28. 1Cor 10,16; 11,28-30)?
A Bíblia não diz que as pessoas "rezavam para os querubins", como diz o nosso consulente. Os querubins eram símbolos do Sagrado; as pessoas não deveriam rezar para eles, mas com certeza rezavam diante deles. São coisas completamente diferentes. Assim também era com a serpente de bronze e/ou os bois e leões entalhados no Templo do SENHOR. Mas a partir do momento em que os hebreus passaram a adorar a serpente, aí sim ela precisou ser destruída (conf. Nm 21).
Foi Deus mesmo Quem ordenou a Moisés que fizesse a serpente. Sendo assim, por que ela teve que ser destruída? O que isso significa? É simples notar que o problema não está na imagem em si, mas no uso que se faz da imagem. Sem dúvida, acreditar que Deus é uma imagem de bronze, pedra, gesso ou qualquer outro material seria um grave pecado, além de uma absurda estupidez que não deveria caber em nossos dias. Será que ainda existe alguém assim, tão estúpido, em pleno século 21, salvo exceções realmente raras? Será que nós, católicos, somos tão estúpidos a ponto de pensarmos que Deus é estátua?
Muito nos questionam quanto aos maus testemunhos, e não podemos negar que muitos dentre os que se dizem católicos, prostrados diante de imagens, parecem pedir coisas às imagens em si, e não a Deus. Outros tantos se entregam às práticas mágicas das chamadas "simpatias", pondo imagens de cabeça para baixo, em recipientes com sal ou mergulhadas em copos com água. Lamentável, mas a resposta é sim: existem seres humanos extremamente ignorantes neste mundo. A questão aqui é entender que esta não é nem nunca foi a função das imagens para os verdadeiros católicos.
Colocar-se diante de uma imagem, consciente de que se trata de um símbolo sagrado, que serve para elevar nossas almas a Deus, é idolatria? É pecado? Mais uma vez, a Bíblia, sempre útil para ensinar, instruir e corrigir, trata deste assunto: no livro de Josué, vemos como “Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde, diante da Arca do Senhor‚ tanto ele como os anciãos de Israel‚ e cobriram de pó as suas cabeças” (Js 7‚6).
Josué e os anciãos se prostraram diante da Arca do Senhor, – com as imagens dos querubins sobre ela, – até a tarde (provavelmente é este gesto que os 'pastores evangélicos' da imagem acima estavam querendo imitar). Estavam os chefes de Israel adorando as esculturas de anjos sobre a Arca? Ou adorando a própria Arca? Seria a Arca um "ídolo"? Seria este um ato de "idolatria"?
A resposta a todas as perguntas propostas acima é não‚ pois a Arca não tem vida própria e nem está no lugar de Deus. A Arca era usada como sinal visível da Presença de Deus na Terra, e‚ pelo seu significado, Josué e os anciãos passaram horas prostrados diante dela, pedindo ao SENHOR.
Com as imagens católicas é exatamente a mesma coisa. "Idolatrar" é pretender transferir a divindade de Deus para uma imagem, como faziam os pagãos. É crer que pela imagem (ídolo) seremos salvos, e tratar essa imagem como um ser divino e vivo: esse comportamento, – é óbvio, – sempre foi condenado pela Igreja Católica. Nunca um teólogo católico ensinou que uma imagem ou algum santo fosse Deus, para ser adorado.
Católicos malformados existem, e infelizmente são muitos. Pessoas que creem em magias e as praticam, e se declaram católicas, também, sem dúvida. Agora, vejamos: quantos escândalos temos visto envolvendo "pastores evangélicos" e charlatanismo, lavagem de dinheiro, desvio de doações, formação de quadrilha, tráfico de drogas e de armas, abuso sexual de fiéis, etc, etc? Está nos jornais e noticiários, está na internet, diariamente. Mas seria justo julgar todos os membros de comunidades "evangélicas" com base nesses péssimos exemplos? Não? Bem, tudo o que pedimos, por favor, é que parem de fazer exatamente isto conosco: julgar a Igreja com base naqueles que não podem representá-la, porque praticam o que ela condena.
Rezamos para que a Luz do SENHOR ilumine este nosso leitor anônimo e clareie o seu discernimento.