Chamar o sacerdote de padre (pai) contraria a Bíblia?
“Olá, pessoal!
É com muito prazer que recorro a vocês, que muitas vezes foi fonte de esclarecimento acerca das doutrinas da Unica e Verdadeira Igreja de Cristo, para me esclarecer sobre um trecho da bíblia.
Certa vez, vi uma citação de um irmão protestante, sobre o sacerdócio, a qual dizia: "E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus". (São Mateus 23, 9)
Ele dizia que não podemos chamar o sacerdote de "padre", e que sequer devíamos ter padre, baseado nesse versículo. Poderiam me ajudar a sanar essa duvidazinha?
Agradeço a atenção, e parabenizo o excelente trabalho de vocês. Abraços!"
Caríssimo Marcelo Mattos, em primeiro lugar agradecemos pela confiança depositada em nosso modesto apostolado. Para a elaboração deste nosso estudo, recorremos à consulta das aulas do fiel e valoroso Bispo Titular de Palmares (PE), Exmo. e Revmo. Dom Henrique Soares da Costa (foto), que já respondeu à mesma pergunta em sua página. Nosso desejo e nossa oração para que a leitura deste texto seja útil ao maior número possível de almas, ad maiorem Dei gloriam.
† † †
O título “Papa”, atribuído ao Sucessor de S. Pedro, pode ser traduzido por "pai". O termo “padre”, tão comumente atribuído aos presbíteros, de origem latina, também significa "pai". Estaria então a Igreja, na prática, desobedecendo a um preceito dado diretamente por Jesus Cristo, constante no Evangelho segundo S. Mateus (23,9), de não chamar a ninguém sobre a terra de pai? É o que veremos.
Um primeiro fato, que precisamos sempre manter em mente, é que o Evangelho nunca poderá ser reduzido à letra, isto é, às interpretações literais e isoladas de determinados versículos, porque "a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2Cor 3,6). É extremamente perigoso tomar uma palavra ou frase de Jesus e procurar compreendê-la fora de seu contexto próprio e de sua real intenção. Quem tenta fazê-lo, quase sempre, erra e trai a Vontade do Senhor. A Escritura somente pode ser compreendida no mesmo Espírito na qual foi escrita, e esse Espírito é Dom de Deus à sua Igreja. – É sumamente importante esta adesão de fé, esta atitude de fundo, porque sem ela as Sagradas Escrituras tornam-se pura fonte de erros, de confusão e de divisões sem fim.
Basta ver aonde a loucura do livre exame da Bíblia, apregoado por Lutero, levou o protestantismo: hoje são dezenas de milhares de seitas derivadas do movimento de protesto inicial, desde as mais radicais, imersas em fechamento e fanatismo fundamentalista, às mais liberais, que "casam" homossexuais e até os admitem como "pastores", "bispos" e "bispas". – Além disso, se a Bíblia afirma que é Deus nosso Pai maior, igualmente enfatiza que nosso "Pastor" é Jesus Cristo, conforme lemos no Evangelho segundo S. João (10, 12), e não homem algum. Se o questionamento quanto ao termo "padre" parte de um protestante/"evangélico", que tem a Bíblia como única regra de fé e prática, já começa descabido, pois aquele que acusa faz exatamente a mesma coisa, chamando seu orientador espiritual de "pastor".
Basta ver aonde a loucura do livre exame da Bíblia, apregoado por Lutero, levou o protestantismo: hoje são dezenas de milhares de seitas derivadas do movimento de protesto inicial, desde as mais radicais, imersas em fechamento e fanatismo fundamentalista, às mais liberais, que "casam" homossexuais e até os admitem como "pastores", "bispos" e "bispas". – Além disso, se a Bíblia afirma que é Deus nosso Pai maior, igualmente enfatiza que nosso "Pastor" é Jesus Cristo, conforme lemos no Evangelho segundo S. João (10, 12), e não homem algum. Se o questionamento quanto ao termo "padre" parte de um protestante/"evangélico", que tem a Bíblia como única regra de fé e prática, já começa descabido, pois aquele que acusa faz exatamente a mesma coisa, chamando seu orientador espiritual de "pastor".
Dito isso, vamos à questão propriamente posta. – Nosso Senhor afirma que não devemos tratar a ninguém por pai no contexto de uma polêmica com escribas e fariseus, que se pretendiam detentores da dignidade e da autoridade de pais espirituais da comunidade judaica, assumindo assim o privilégio da Promessa divina feita a Abraão. Longe de querer ensinar que seria pecado chamar, por exemplo, ao nosso progenitor de pai, o Cristo claramente diz que a Paternidade suprema, em sentido absoluto, – o Princípio e o Modelo perfeito de toda paternidade, – brota do Criador de todas as coisas, seu e nosso Pai do Céu.
Ninguém poderia ser verdadeiramente pai, a não ser em referência ao Pai de Jesus, e mais uma vez as Sagradas Escrituras o confirmam, mais adiante: "Dele procede toda a paternidade no Céu e na Terra" (Ef 3,14). Qualquer um que se considere pai espiritual sem reconhecer Jesus como o Filho do Pai verdadeiro, pleno e perfeito, trai o sentido da paternidade e usurpa a Paternidade divina, deformando-a.
Adiante, são muitos os caminhos que poderíamos tomar para demonstrar que a passagem em questão não pode ser tomada literalmente, por exemplo, simplemente considerando o Mandamento Divino de honrar pai e mãe. É o próprio Deus Todo-Poderoso, diretamente, ordenando que honremos nossos pais segundo a carne. Seria honroso a algum pai que seu próprio filho se negasse a chamá-lo de "pai"? Ora, se não podemos chamar a absolutamente ninguém de pai a não ser Deus, é assim que deveria ser, e haveria uma insolúvel contradição na Bíblia. Seria este um bom começo, uma boa reflexão inicial. Avançaremos, entretanto, bem além daí.
Ninguém poderia ser verdadeiramente pai, a não ser em referência ao Pai de Jesus, e mais uma vez as Sagradas Escrituras o confirmam, mais adiante: "Dele procede toda a paternidade no Céu e na Terra" (Ef 3,14). Qualquer um que se considere pai espiritual sem reconhecer Jesus como o Filho do Pai verdadeiro, pleno e perfeito, trai o sentido da paternidade e usurpa a Paternidade divina, deformando-a.
Adiante, são muitos os caminhos que poderíamos tomar para demonstrar que a passagem em questão não pode ser tomada literalmente, por exemplo, simplemente considerando o Mandamento Divino de honrar pai e mãe. É o próprio Deus Todo-Poderoso, diretamente, ordenando que honremos nossos pais segundo a carne. Seria honroso a algum pai que seu próprio filho se negasse a chamá-lo de "pai"? Ora, se não podemos chamar a absolutamente ninguém de pai a não ser Deus, é assim que deveria ser, e haveria uma insolúvel contradição na Bíblia. Seria este um bom começo, uma boa reflexão inicial. Avançaremos, entretanto, bem além daí.
Outros casos semelhantes nas Sagradas Escrituras
No estudo acadêmico, aprendemos que a linguagem bíblica é, frequentemente, superlativa, generalizante. É próprio da pedagogia dos autores sagrados, por exemplo, usar às vezes o termo "todos" para dizer "muitos"; "eternamente" para dizer "muito tempo"; "sem fim" para dizer "grande quantidade"; etc. Assim, encontramos na Bíblia diversos paralelos muito semelhantes a este caso da proibição de se chamar a qualquer pessoa humana de pai.
É exatamente o mesmo quando Jesus diz à pessoa que se dobra diante dele e o chama "bom mestre": “Por que me chamais bom? Ninguém é bom, a não ser somente um, que é Deus” (Mc 10,18).
Esta passagem deveria ser extremamente desconcertante para todo aquele que, ao mesmo tempo em que se pretende cristão, elege a Bíblia como única regra de fé. Ora, se formos interpretar o texto ao pé da letra, como na passagem de S. Mateus (23,9) que estamos examinando, teríamos que dizer que Jesus não é Deus, porque ele parece repreender quem o chama "bom", dizendo que somente Deus é bom. E Será que Jesus não é bom? Então, Ele não é Deus? Além disso, estaria também dizendo o Senhor que não existiu nem existe nenhuma pessoa humana neste mundo que pudéssemos chamar de bom ou boa?
Esta passagem deveria ser extremamente desconcertante para todo aquele que, ao mesmo tempo em que se pretende cristão, elege a Bíblia como única regra de fé. Ora, se formos interpretar o texto ao pé da letra, como na passagem de S. Mateus (23,9) que estamos examinando, teríamos que dizer que Jesus não é Deus, porque ele parece repreender quem o chama "bom", dizendo que somente Deus é bom. E Será que Jesus não é bom? Então, Ele não é Deus? Além disso, estaria também dizendo o Senhor que não existiu nem existe nenhuma pessoa humana neste mundo que pudéssemos chamar de bom ou boa?
A resposta para todas as questões acima, evidentemente, é um grandioso e sonoro não. O que Jesus evidentemente está dizendo é que toda verdadeira bondade provém do Pai, e que toda bondade que não for imagem e expressão da Bondade do Pai não é verdadeira bondade.
Outro exemplo interessante, no mesmo sentido, é a passagem da Epístola aos Romanos (3,10), que afirma categoricamente: "Não há nenhum justo (no mundo); não há nem um sequer."
Mais uma vez, a linguagem superlativa, que tende às expressões generalizantes. Se não há nenhum justo no mundo, então como é que o Evangelho segundo S. Lucas (1,6) diz que Zacarias e Isabel, pais de S. João Batista, "eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os Mandamentos e preceitos do Senhor"? Além disso, o próprio Batista é chamado "varão justo e santo" (Mc 6,20). Há diversos outros exemplos, e também no Antigo Testamento encontramos as afirmações de que Noé e Jó, entre outros, eram justos.
Que fazer, então? Se a passagem de Romanos está correta, então as outras, que mencionam homens e mulheres justos, estão erradas? Ou teria S. Paulo Apóstolo se equivocado ao escrever aquela frase, e deveríamos então riscá-la de nossas Bíblias? Nem uma nem outra. A questão se resolve quando entendemos o que já demonstramos no início deste estudo: nem tudo o que se lê na Bíblia Sagrada deve ser entendido literalmente, e este é um dos motivos pelos quais o Senhor nos deu a Igreja, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15) para todo aquele que deseja segui-Lo, – porque é ela, a mesma Igreja, o Corpo do Cristo (1Cor 14-20), isto é, a continuidade histórica do Salvador no mundo. É por meio da Igreja, legítima autora (inspirada pelo Espírito Santo) e fiel depositária da Palavra de Deus (nas Escrituras e na Tradição, por ordem do Cristo), que podemos compreender a Mensagem que Deus tem para nós.
Encerrando definitivamente a questão
Mais uma vez, a linguagem superlativa, que tende às expressões generalizantes. Se não há nenhum justo no mundo, então como é que o Evangelho segundo S. Lucas (1,6) diz que Zacarias e Isabel, pais de S. João Batista, "eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os Mandamentos e preceitos do Senhor"? Além disso, o próprio Batista é chamado "varão justo e santo" (Mc 6,20). Há diversos outros exemplos, e também no Antigo Testamento encontramos as afirmações de que Noé e Jó, entre outros, eram justos.
Que fazer, então? Se a passagem de Romanos está correta, então as outras, que mencionam homens e mulheres justos, estão erradas? Ou teria S. Paulo Apóstolo se equivocado ao escrever aquela frase, e deveríamos então riscá-la de nossas Bíblias? Nem uma nem outra. A questão se resolve quando entendemos o que já demonstramos no início deste estudo: nem tudo o que se lê na Bíblia Sagrada deve ser entendido literalmente, e este é um dos motivos pelos quais o Senhor nos deu a Igreja, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15) para todo aquele que deseja segui-Lo, – porque é ela, a mesma Igreja, o Corpo do Cristo (1Cor 14-20), isto é, a continuidade histórica do Salvador no mundo. É por meio da Igreja, legítima autora (inspirada pelo Espírito Santo) e fiel depositária da Palavra de Deus (nas Escrituras e na Tradição, por ordem do Cristo), que podemos compreender a Mensagem que Deus tem para nós.
Encerrando definitivamente a questão
Retomando o tema central deste estudo, é preciso saber que na comunidade cristã sempre houve aqueles chamados de "pais" no sentido espiritual, exatamente porque fizeram de suas vidas expressão da Paternidade do Pai do Céu, Paternidade que sempre exprime amor, providência, acolhimento, misericórdia, cuidado.
Por fim, apesar de todo o exposto até aqui, também é possível demonstrar o erro de quem pensa que é proibido chamar a um ser humano de pai, porque somente Deus mereceria este título, do modo mais simples, grosseiro e óbvio: mostrando onde a própria Bíblia claramente o demonstra, como quando exorta os cristãos a chamaram seus pais humanos, simplesmente, de "pais". Ora, o texto sagrado diz: "Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo" (cf. Ef 6,1). Evidentemente, se não fosse permitido chamar a ninguém de Pai, senão exclusivamente Deus, a própria Bíblia não o faria.
No Antigo Tetamento, as Escrituras chamam Abraão de "Pai de uma multidão" de povos ou nações, sendo que no hebraico bíblico o nome do Patriarca possui este exato significado.
Mais ainda, S. Paulo mesmo se apresenta como pai espiritual dos fiéis que por meio dele foram convertidos:
Mais ainda, S. Paulo mesmo se apresenta como pai espiritual dos fiéis que por meio dele foram convertidos:
“Eu vos escrevo como a filhos bem-amados. Ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, pois fui eu quem pelo Evangelho vos gerou em Cristo Jesus." (1Cor 4,14-15)
“Meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós.” (Gl 4,19)
Também S. João, na sua Epístola, chama frequentemente os cristãos aos quais se dirige de "filhinhos". Vemos assim que ele se considerava pai espiritual da comunidade a que se dirigia.
O que transparece claramente de toda esta realidade é que toda e qualquer paternidade na comunidade cristã deve ter como Fonte, Modelo e Expressão, a Paternidade de Deus. Qualquer outro tipo de paternidade espiritual é idolátrica e sacrílega; é blasfêmia contra o Nome do Pai, que Jesus revelou vivendo como Filho perfeito.
Além disso, ainda que alguns exerçam na comunidade uma função de paternidade, essa função tem como alicerce e fundamento uma outra: a relação de fraternidade, já que fomos feitos todos filhos do Pai do Céu e assim somos todos irmãos. O presbítero, o padre, tem uma paternidade espiritual em relação aos fiéis católicos, mas, antes disso, é também seu irmão em Cristo; antes de ser padre é cristão. Esta é a relação fundamental. Nossa dignidade primordial é sermos cristãos, irmãos em Cristo Jesus. Antes de qualquer paternidade em Cristo, vem a fraternidade recebida como Graça no santo Batismo.
Além disso, ainda que alguns exerçam na comunidade uma função de paternidade, essa função tem como alicerce e fundamento uma outra: a relação de fraternidade, já que fomos feitos todos filhos do Pai do Céu e assim somos todos irmãos. O presbítero, o padre, tem uma paternidade espiritual em relação aos fiéis católicos, mas, antes disso, é também seu irmão em Cristo; antes de ser padre é cristão. Esta é a relação fundamental. Nossa dignidade primordial é sermos cristãos, irmãos em Cristo Jesus. Antes de qualquer paternidade em Cristo, vem a fraternidade recebida como Graça no santo Batismo.
fonte;blogger o fiel católico
Nenhum comentário:
Postar um comentário